sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

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Hidrofone português lê poluição sonora do mar





Não são só os derramamentos de petróleo no mar que afectam os animais que lá vivem. Também o ruído das hélices de barcos ou de explosões os afectam. Cansaço, 'stress' e complicações cardíacas parecem problemas bem humanos, mas o barulho que provocamos no mar também deixa os peixes e cetáceos à beira de um ataque de nervos.
Os estudos acerca dos efeitos da poluição sonora nos humanos dizem que esta pode provocar uma série de problemas de saúde como stress, ataques cardíacos ou cansaço. No mar, estes problemas também atingem os animais, mas não há uma forma de o provar. Isto é, não havia: um grupo de portugueses, colaboradores da Universidade do Algarve, criaram um aparelho que regista os sons debaixo de água, com várias vantagens em relação aos gravadores actuais."O hidrofone digital pode ser deixado no local de passagem de tráfego marítimo. Coloca-se um mais próximo e outro mais longe. Desta forma conseguimos monitorizar a forma como o som afecta os animais", explica ao DN Cristiano Soares, engenheiro electrónico e de redes de computadores que trabalha com o Laboratório de Processamento de Sinal da Universidade do Algarve (SipLab). "A maioria de nós olha para o mar e só vê a superfície azul. Não percebe a riqueza que está por baixo disso. Como o mar é enorme, achamos que aguenta tudo", critica Hélder Spínola, da associação ambientalista Quercus. "Temos vindo a constatar um aumento das actividades de lazer no mar, com lanchas, motas de água e motores fora de bordo. Assim como o aumento do tráfego marítimo", acrescenta.
Segundo estudos feitos ao longo dos anos, o ruído submarino provocado pelo homem tem vários efeitos nos animais marinhos. "Ficam assustados e deixam de se alimentar de forma regular. O stress pode também fazer com que não se reproduzam." Se ainda acha que estes problemas não lhe dizem respeito, lembre-se que os stocks de peixe serão afectados por causa disto, o que significa menos alimento.
Mas não são só os peixes que ficam alterados pelo ruído. Os mamíferos marinhos são aqueles a quem o barulho faz mais confusão, por causa do seu sistema de comunicação. "Existem casos constatados de arrojamentos [quando um cetáceo dá à costa] em que muitas vezes não se consegue determinar a causa da morte", diz o vice-presidente da Quercus. Para o ambientalista, a poluição sonora subaquática deverá ser a principal causadora destas situações: "O ruído interfere no sonar dos cetáceos. Estes usam-no para comunicar, encontrar alimento ou procurar parceiro. Sem ele ficam completamente desorientados." A solução passa pelo hidrofone algarvio. Agora vai ser possível medir os decibéis de forma mais prática e credível. "É preciso saber quais os níveis de poluição sonora, a sua distribuição e causa. Depois é preciso fazer alguma coisa", explica Spínola. Será preciso, primeiro que tudo, diminuir o tráfego marítimo em zonas sensíveis. "Não defendemos o fim do transporte marítimo, porque é importante. Mas é preciso redefinir trajectos." As actividades de lazer devem ser repensadas: "Assim como existe lei para o ruído terrestre, também se deveriam fazer proibições ao ruído subaquático", termina.

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